Palavra de ordem: “Inclusão, inclusão, inclusão”

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Palavra de ordem: “Inclusão, inclusão, inclusão”

Para assinalar o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência em Guimarães realizou-se um conjunto de atividades que compreenderam uma caminhada inclusiva, a qual, de ano para ano, tem sido cada vez mais participada. Em 2019 o destaque da programação das comemorações promovidas pelo Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência, desde 2005 vai para esta “manifestação” pela inclusão que culminou com a leitura de um Pregão na praça do Toural.

“Inclusão, inclusão, inclusão”, gritavam os alunos de uma das escolas participantes na caminhada inclusiva que se realizou a 05 de dezembro. “Inclusão, inclusão, inclusão”, esforçava-se por perceber João Artur Fernandes, um dos elementos do Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência. A cegueira fez-lhe apurar a audição e, por isso, optou por seguir na caminhada inclusiva bem atrás para fugir ao som dos bombos e das caixas que os clientes da Cercigui impunham, à frente deste cortejo em jeito de anúncio do “pelotão” de caminhantes que percorria a rua de Santa Maria abaixo, em direção ao Toural, a meta.

“Desde que fiquei cego que os meus ouvidos passaram a ser os meus olhos e, desde aí, que fujo de festas e do barulho, incomoda-me”, explicou o vimaranense. Mas nem a algazarra desta iniciativa demoveu João Artur Fernandes de participar na marcha para assistir à leitura do Pregão que tanto contribuiu na elaboração. Refugiou-se na escrita depois de ficar cego e é a ela que recorre sempre que precisa de expressar as dificuldades que sente provocadas por esta grande mudança na forma de viver e encarar a vida.

A concentração estava marcada para as 10h30 e todos os participantes começaram a aparecer ao local do ponto de encontro: o largo Cónego José Maria Gomes, mais conhecido como largo da Câmara Municipal de Guimarães, a partida.

Foram várias as escolas a participar nesta marcha inclusiva encabeçada pelo grupo Cercissons e que estava sarapintada de cartazes cheios de frases e palavras de ordem para que ninguém ficasse indiferente na passagem desta multidão.

“Recicle o seu preconceito e transforme-o em respeito”, “Ninguém deve ser discriminado”, “Direito à felicidade”, “Porque nós somos capazes”, “Inclusão, equidade, diversidade” são alguns dos exemplos de expressões alusivas à inclusão que passearam pela rua da Rainha, foram em direção à rua Santo António, desceram a rua Gil Vicente e palmilhando a rua Paio Galvão dirigiram-se para o Toural, a sala de visitas da Cidade Berço onde se realizaria a largada de pombos pela Sociedade Columbófila de Guimarães.

Mas antes disso houve lugar para o discurso de agradecimento da vereadora da Ação Social Paula Oliveira, e à habitual leitura do Pregão por parte de António Cardoso, o eloquente porta-voz do Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência.

“Cada um de nós é único.

Cada um de nós tem o seu valor.

Aceitem, por isso, este conselho:

renunciemos ao preconceito.

tratemos todos com AMOR!”, dizia uma das estrofes.

O representante da Tempo Livre, neste órgão informal de debate, de consulta e informação que funciona com o apoio da Divisão da Ação Social da Câmara Municipal de Guimarães, é também um dos autores deste texto satírico em verso que salienta a falta de cumprimento dos direitos das pessoas com deficiência, a par com a Cercigui e o Agrupamento de Escolas Fernando Távora que também deram os respetivos contributos para o Pregão.

“Fica, pois, o apelo a quem de direito.

Haja decoro e mais respeito

Por quem sente na pele a rejeição.

Chega de teorias e de conversa.

Estamos fartos de promessas.

Menos palavras e mais ação”, termina o pregoeiro António Cardoso.

Inspirado nas Festas Nicolinas que decorriam em simultâneo, este é um dos momentos mais importantes nesta caminhada inclusiva que é realizada em jeito de manifestação pela igualdade de direitos e de oportunidades das pessoas com deficiência.

O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência assinala-se, todos os anos, a 03 de dezembro e foi na manhã desse dia que se realizou o grande espetáculo no Centro Cultural Vila Flor. Este evento reafirmou-se, mais uma vez, como ponto de encontro por excelência destas comemorações que, em 2019, começaram a 25 de novembro e terminaram a 10 de dezembro.

Com o lema “Diferentes Vozes para uma Sociedade Inclusiva”, este espetáculo contou com a apresentação de números artísticos por parte das escolas e das instituições, mostrando, em artes diversas, que o palco é de TODOS.

“Ninguém saiu de lá sem uma lágrima no canto do olho. Foi muito bonito”, resumiu, em jeito de balanço, Rosa Mota, a representante da delegação de Braga da Associação Portuguesa de Deficientes no Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência.

“Correu muito bem. Acho que este ano, na minha opinião deve ter sido dos melhores anos por tudo, correu na perfeição”, referiu a animadora sociocultural do Centro de Atividades Ocupacionais e Lar Residencial Alecrim da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, Cátia Sofia. “Todos os anos fazemos alguma coisa relacionada com algum filme e este ano escolhi a história do Principezinho. Encenámos a história e acho que teve muito impacto”, descreveu a responsável.

O Agrupamento de Escolas Fernando Távora fez uma demonstração de desporto escolar que reuniu 35 alunos em palco num momento artístico verdadeiramente inclusivo. “Correu muito bem, queríamos fazer um número um bocado diferente e o nosso foi o mais diferente”, avaliou a professora de educação especial, Ana Ataíde em jeito de comparação com os números de teatro e de dança que as restantes instituições apresentaram.

Uma delas foi a Cercigui que aproveitou o momento para estrear “A PELE”, um projeto artístico e social, cofinanciado pelo Programa de Financiamento a Projetos do INR, que pretende abordar o problema da inclusão e acessibilidade, de modo integrado, através das práticas artísticas para pessoas com deficiência e incapacidades. “Um processo gratificante, rico em aprendizagens. Um processo de inclusão entre a Cercigui e os alunos de dança do Agrupamento de Escolas da Abação”, lê-se na página do Facebook deste agrupamento escolar.

A responsável de Marketing e Comunicação da Cercigui, Clara Paredes Castro, explicou ao Fórum Municipal que este projeto quer mostrar que “a pele é algo que habita em nós e que nos faz contactar com emoções e realidades” e através da arte estimular a “auto aceitação, igualdade, amor e liberdade”. “Em 2020 é nossa intenção que o projeto tenha continuidade e alargamento e que ‘A Pele’ chegue ainda mais longe e a mais públicos”, refere Clara Paredes Castro.

O Centro Cultural Vila Flor foi mais uma vez palco de partilha de momentos de alegria, afirmando-se este espetáculo, também em 2019, como o culminar de toda esta celebração.

As ações de sensibilização nas escolas e a entrada no relvado de alguns jovens com os jogadores do Vitória e do Portimonense remataram o programa de comemorações desta efeméride assinalada pelas Nações Unidas desde 1992, com o objetivo de promover uma maior compreensão dos assuntos concernentes à deficiência e para mobilizar a defesa da dignidade, dos direitos e o bem-estar das pessoas, bem como aumentar a consciência dos benefícios trazidos pela integração das pessoas com deficiência em cada aspeto da vida política, social, económica e cultural.

“A chuva para nós é sol”, fez também sentido no jogo que se realizou no dia 08 de dezembro, tendo sido uma manifestação de que nem o mau tempo veio perturbar a alegria de todos os 22 participantes que acompanharam os jogadores de futebol e viram o mar de gente que se estava a preparar para apoiar ambas as equipas.

“Os nossos miúdos entraram todos com os jogadores do Portimonense mas mesmo assim adoraram. Os miúdos felizes da vida, os pais também. O combinado era às duas horas estarem lá, os pais estavam lá antes das duas. Por isso já se vê como os pais gostaram e os miúdos também estavam entusiasmados”, refere a professora Ana Ataíde, em jeito de balanço positivo desta iniciativa.

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