Andebol: Centro Social de Brito e Xico de mãos dadas pela prática da modalidade

PorFórum

Andebol: Centro Social de Brito e Xico de mãos dadas pela prática da modalidade

A aposta do Centro Social de Brito no andebol adaptado foi dada a conhecer publicamente no intervalo do encontro, realizado em Guimarães, entre o Xico Andebol e o F.C. Porto, para a Taça de Portugal. A nova equipa do Xico está a finalizar o processo de inscrição na Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual (ANDDI) e, assim, começar a participar nos campeonatos dedicados a esta modalidade.

Alguns dos atletas da nova equipa de andebol adaptado do Xico interromperam o almoço para a entrevista ao Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência de Guimarães mas estavam contentes por poderem declarar o quão satisfeitos estão por começarem a praticar esta modalidade.

Ninguém tem medo de levar com a bola? ”Eu tenho”, responde Mariana Gomes. “Eu já levei”, disse Diogo Leite. “Como guarda-redes defendi algumas”, contextualizou o atleta.

“O objetivo é que passem por todas as posições, porque eles iam todos querer ir para a baliza porque assim não correm”, completou Henrique Carlota, o técnico superior de reabilitação psicomotora do Centro Social de Brito e responsável por esta aposta da instituição.

Os atletas estão ansiosos por começarem a jogar a sério mas a pandemia também veio fazer estragos em relação à prática desta modalidade. Muitos dos campeonatos e torneios de andebol que, em anos anteriores, demonstravam a força que este desporto começava a ter junto das pessoas com deficiência, não se realizaram.

Legenda: O projeto Andebol 4ALL da Federação de Andebol de Portugal tem vindo, desde 2010, a elevar o andebol junto dos praticantes em cadeiras de rodas, com deficiência intelectual e deficiência auditiva.

O primeiro jogo que pretende assinalar a formalização da inscrição da equipa na ANDDI está prestes a acontecer e vai juntar outros clubes da região, em mais um evento que, acima de tudo, pretende promover as competências pessoais e sociais e aumentar a autoestima desta população.

A experiência da apresentação da equipa no encontro Xico Andebol x F.C. Porto, a 05 de fevereiro, já deixou um “bichinho” a todos os atletas e nem a derrota da equipa da casa abalou a alegria que sentiram por assistirem ao jogo na bacada do Pavilhão Desportivo Francisco de Holanda. Mas a cereja no topo do bolo aconteceu ao intervalo quando foram eles o centro das atenções dentro do campo. “Foi um momento delirante, porque estão no campo a receber as palmas do público, sentem-se eles o foco”, confirmou Henrique Carlota. “É tudo novo para eles e proporcionar-lhes estas experiências é espetacular. Muitas vezes veem estes eventos na televisão e têm os ídolos deles. Mas poderem praticar a modalidade e sentirem-se também jogadores, atletas, estrelas e promovermos a interação e a inclusão porque tanto batalhamos é muito agradável”, conclui.

Henrique Carlota trabalha, desde novembro, no Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI) e Lar Residencial do Centro Social de Brito enquanto técnico superior de reabilitação psicomotora.

O trabalho que desenvolve foca-se nos fatores psicomotores, como é o caso da tonicidade, equilíbrio, lateralidade, noção de corpo, a motricidade grossa e fina. Mas o desporto apresenta-se como um aliado a este trabalho mais técnico porque inclui a componente lúdica, fazendo com que o esforço dos exercícios passe despercebido.

Foi assim que o andebol entrou na rotina de trabalho que incluem sessões individuais, para casos mais profundos, ou em grupo, como é exemplo a terapia que realiza em meio aquático.

É um trabalho que, no fundo, mistura a fisioterapia e a terapia ocupacional: “É isso mesmo. Nem somos fisioterapeutas, nem somos terapeutas ocupacionais. Misturamos as duas, numa vertente psicomotora e, por isso, as AVDs [atividades da vida diária] que o terapeuta ocupacional também interfere também interferimos.

A escolha do andebol, enquanto modalidade a praticar, até podia dizer-se que surgiu por acaso, numas brincadeiras com bolas improvisadas no ginásio da instituição, não fosse Henrique Carlota um jogador profissional que pratica andebol desde os seis anos. “Agora sou semiprofissional. Juntei a minha modalidade de eleição com a minha população de eleição e, visto que havia condições na instituição, seja os utentes com capacidade para tal e um clube na zona, o Xico Andebol, aberto a estes projetos, juntámos o útil ao agradável”, refere.

O contacto com a realidade do desporto adaptado aconteceu na faculdade mas a aproximação ao andebol adaptado deveu-se à proximidade que tinha enquanto atleta à Federação Portuguesa de Andebol: “Estar federado e ter contacto com pessoas que estão a promover o andebol. As pessoas da Federação sabiam que estava nesta área e tentaram sempre incutir-me a vontade de formar uma equipa. Eu estava em Lisboa na altura, nunca foi possível”.

Henrique Carlota é de Benavente, trabalhou em Lisboa, mas foi em Guimarães que acabou por concretizar esse sonho aos 31 anos. Neste momento, o técnico de reabilitação psicomotora representa o ADA Maia/ISMAI depois de ter estado três épocas ao serviço do Águas Santas Milaneza mas, além do andebol, decidiu também desafiar os clientes do Centro Social de Brito à prática de atletismo. “Um com um objetivo mais de competição e noutro grupo maior mais para exercitar ao ar livre”, contextualiza.

Marco Ribeiro diz que aguenta 50 minutos a correr. “Aguentas 50 minutos a correr?”, pergunta admirado Henrique Carlota. “Sim”, responde com firmeza. “Para a semana já vamos fazer esse teste”, desafia o treinador.

É na Pista de Atletismo Gémeos Castro que os treinos se desenvolvem: “Primeiro é o aquecimento, depois é a correr e dar a volta”, explica, serenamente, João da Silva. “Temos treinado os 100 metros, sprint, que é mais competitivo para eles, para fazerem os tempos. Depois fazemos à volta da pista, estafeta, não fazemos com testemunho na mão, mas eles cumprimentam-se e correm cerca de 100 metros cada um”, completa Henrique Carlota.

Acácio Vieira, que já foi duas vezes ao S. Bentinho a pé e aguentou “até ao final” não pode correr muito e então dedica-se em exclusivo ao andebol. Mas a maioria dos atletas dividem-se entre as duas modalidades, em jeito, de complemento uma da outra. Na hora de dizer qual é o desporto que preferem, apenas Marco Ribeiro assume preferir o andebol. Resta-nos esperar em qual das modalidades vamos ouvir falar mais destes atletas.

 

Sobre o autor

Fórum administrator

O Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência é um órgão informal de debate, de consulta e informação que funciona com o apoio da Divisão da Ação Social da Câmara Municipal de Guimarães e que, em 2018, completa 15 anos de existência. Composto por representantes de associações e instituições públicas e privadas, pessoas com deficiência e respetivos representantes o Fórum assume como principais funções a promoção e organização de debates temáticos e de ações e projetos de interesse para as pessoas com deficiência, assim como a apresentação de propostas e sugestões dirigidas a este público. Podem fazer parte do Fórum associações e instituições públicas e privadas, com personalidade jurídica, pessoas com deficiência e seus representantes. Os membros devem ser registados.

Deixar uma resposta