Diana Pereira: “A verdade é que quando digo que sou terapeuta ocupacional poucas são as pessoas que sabem o que realmente faço”.

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Diana Pereira: “A verdade é que quando digo que sou terapeuta ocupacional poucas são as pessoas que sabem o que realmente faço”.

No dia 27 de outubro celebrou-se o Dia Mundial da Terapia Ocupacional, uma data que pretende reconhecer e valorizar o contributo destes profissionais na promoção da autonomia e bem-estar das pessoas. Para assinalar este dia, conversámos com a terapeuta ocupacional do Centro de Actividades e Capacitação para a Inclusão e do Lar Residencial Alecrim, valências da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, Diana Pereira, que sublinhou a importância desta data para dar visibilidade ao papel destes profissionais e realçou o impacto da terapia ocupacional na vida das pessoas que acompanha.

Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência (FMPcD) – Para começarmos, pode explicar-nos de forma simples o que é a Terapia Ocupacional?

Diana Pereira (DP) – De forma simples, a Terapia Ocupacional ajuda as pessoas a realizar as atividades que são importantes para elas no dia a dia – seja comer, trabalhar, cuidar do jardim ou brincar. Nós chamamos estas atividades de “ocupações”. Pretendemos promover a autonomia das pessoas nas diferentes áreas da sua vida, adaptando o contexto, a própria atividade ou até ensinando estratégias para que a pessoa a consiga fazer sozinha.

FMPcD – Que tipo de pessoas ou condições beneficiam da intervenção de um terapeuta ocupacional?

DP – Podemos ajudar qualquer pessoa, de qualquer idade, que tenha dificuldade nas suas atividades diárias. Tanto podemos ajudar uma criança que tenha dificuldades em saltar, como uma pessoa idosa com demência. Trabalhamos com todas as idades e condições, sempre com foco na funcionalidade.

FMPcD – Pode dar-nos um exemplo prático de como decorre uma sessão de terapia ocupacional?

DP – As sessões podem ser muito variadas dependendo dos nossos objetivos e da pessoa com quem estamos a intervir. Por exemplo, podemos usar brincadeiras e jogos para estimular competências motoras numa criança. Ou podemos treinar com um adulto atividades como voltar a alimentar-se ou a vestir-se sozinho após um AVC [Acidente Vascular Cerebral]. Não há duas sessões iguais, cada uma é planeada tendo em conta a pessoa e os seus objetivos.

FMPcD – Muitas vezes, há alguma confusão entre terapia ocupacional e fisioterapia. Quais são as principais diferenças entre estas duas áreas?

DP – É verdade, há alguma confusão. A principal diferença está no objetivo da nossa intervenção. A fisioterapia foca-se na reabilitação e recuperação da parte física e do movimento, já nós, na terapia ocupacional, trabalhamos o uso desse movimento nas tarefas do dia a dia, ou seja, ajudamos a dar função ao movimento. Não queremos apenas que a pessoa mexa o braço, queremos que ela seja capaz de usar o braço para pegar num objeto que está na prateleira da cozinha, por exemplo.

FMPcD – Quais são os principais desafios que enfrenta no seu dia a dia enquanto terapeuta ocupacional?

DP – Um dos maiores desafios é transversal a muitas áreas da saúde: faltam recursos e tempo de qualidade para intervir com cada utente. Muitas vezes temos muitos utentes e pouco tempo para uma intervenção individualizada, o que limita o tempo de treino necessário para restaurar a funcionalidade. Mas fazemos o melhor possível com os recursos que temos.

FMPcD – Que papel desempenha o terapeuta ocupacional na promoção da autonomia e qualidade de vida das pessoas?

DP – É exatamente isso que procuramos: promover autonomia e qualidade de vida. Quando ajudamos uma pessoa a voltar a fazer o que é significativo para ela, estamos a promover não só a sua autoestima, mas também a dar-lhe dignidade e qualidade de vida. Pode ser algo tão simples como voltar a vestir-se sozinho, mas para quem perdeu essa capacidade, é uma conquista enorme.

FMPcD – Como é que a Terapia Ocupacional se adapta às novas tecnologias ou às mudanças na sociedade, por exemplo, ao envelhecimento da população?

DP – A Terapia Ocupacional está sempre a adaptar-se. Usamos aplicações para treino cognitivo, ajustamos os espaços onde as pessoas vivem para que sejam mais seguros e funcionais e temos colegas que recorrem à impressão 3D para criar produtos de apoio personalizados, como por exemplo para puxar fichas da tomada. À medida que a sociedade muda, nós mudamos com ela, sempre com foco na autonomia e na qualidade de vida.

FMPcD –  A 27 de outubro celebrou-se o Dia Mundial da Terapia Ocupacional. Qual é a importância desta data para os profissionais e para a visibilidade da profissão?

DP – Assinalar esta data ajuda a divulgar e a dar visibilidade ao papel dos terapeutas ocupacionais na sociedade. A verdade é que quando digo que sou terapeuta ocupacional poucas são as pessoas que sabem o que realmente faço. Assinalar o Dia Mundial da Terapia Ocupacional ajuda não só a divulgar mas também a valorizar o nosso trabalho e a mostrar o impacto que podemos ter na independência e qualidade de vida das pessoas que acompanhamos.

FMPcD –  Que mensagem gostaria de deixar a quem ainda não conhece bem esta área, ou até a quem esteja a pensar seguir esta profissão?

DP – Na Terapia Ocupacional temos uma visão centrada na pessoa. O nosso foco é ajudar a pessoa tendo em conta os seus pontos fortes, hábitos, crenças e necessidades. Temos de saber ouvir e, muitas vezes, ler nas entrelinhas para conseguir ajudar a ultrapassar os desafios que impedem a sua autonomia. É desafiante porque não há duas pessoas iguais, mesmo que tenham o mesmo diagnóstico, mas é gratificante chegar ao final do dia e perceber que conseguimos fazer a diferença.

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