Alison Burrows: “Um produto se calhar não responde a todas as características humanas mas pode responder especificamente a um grupo e incluir quem mais quiser usar e puder usar”.

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Alison Burrows: “Um produto se calhar não responde a todas as características humanas mas pode responder especificamente a um grupo e incluir quem mais quiser usar e puder usar”.

Não fosse o nome, ninguém suspeitaria que Alison Burrows é inglesa, já que vive em Coimbra desde os dois anos e, por isso, fala português fluentemente. Foi na cidade dos estudantes que se formou, numa universidade que já não existe. A Escola Universitária das Artes de Coimbra e o curso de Equipamento e Design de Interiores tiveram a oportunidade de ver surgir uma especialista em Design Inclusivo que trabalha agora na Universidade do Minho e recentemente mudou-se de malas e bagagem para Guimarães.

Fórum Municipal (FM) – Como foi a experiência académica e como é que o design inclusivo entrou na sua vida?

Alison Burrows (AB) – Isso foi há tanto tempo mas a escola era muito interessante na sua abordagem. Eram, na altura, cursos de cinco anos e o primeiro ano da fundação reunia toda a gente de todos os cursos, pintura, escultura, todas as artes juntas a experimentar um bocadinho. Depois no segundo ano juntavam-se os dois cursos com mais afinidade portanto design e arquitetura. E no terceiro, quarto e quinto foi mais vocacionado para design de Equipamento e de interiores e nesta metodologia, digamos, assim não tive vontade de sair do curso inicial.

FM – Qual foi a importância desta experiência e do contacto com outras artes?

AB – Esta experiência em várias artes ensinou-me a importância de colaborar e também o facto de um sonho poder ter várias identidades e vertentes de ação. No quarto ano tínhamos uma unidade curricular em que os alunos de todos os cursos traziam já um bocado da sua especialização para um projeto de grupo. Isso foi super interessante e era necessário manter esse trabalho interdisciplinar para garantir bons resultados.

FM – E o que se seguiu à licenciatura?

AB – No final da licenciatura eu descobri que não sou tanto uma designer “de fazer” e de desenhar e que sou mais uma designer de investigar, conhecer e trabalhar com pessoas. Portanto fui para Inglaterra e fiz um doutoramento em Design Inclusivo e a experiência do utilizador na Universidade de Loughborough. O público-alvo foram as pessoas seniores, a partir dos 50 anos – eu sei que isto é uma idade demasiado jovem para se ser considerado sénior e as pessoas a partir dos 50 ou 60 ou 75 são super diversas e nós estamos a tentar voltar a agrupá-las com um termo que muitas vezes não reflete a experiência de vida e torna-se mais difícil de uniformizar.

FM – Encontrou logo à partida um desafio…

AB – Vi muitos estudos que tentavam agrupar e generalizar as pessoas mais velhas e a prescrever a tecnologia que precisam e, em certa medida, isso foi necessário. Mas sei que esta população tem mais complexidade e há fatores que nós, designers, não temos necessariamente que intervir e solucionar. Essas pessoas podem contribuir para a nossa investigação porque têm uma experiência de vida muito mais vasta.

FM – E como foi a experiência de fazer o doutoramento com este público-alvo?

AB – Estamos nós com vinte e tal anos a fazer o doutoramento com esse público e a primeira coisa que eu senti foi humildade: eu com 20 anos não podia compreender o que é ter 60 ou 70 ou 80 e aquelas transições definidas pelas quais essas pessoas passam, além das capacidades físicas e doenças, a reforma, a viuvez, certas coisas que transformam. Então passou muito por ouvir e incorporar as perspetivas das pessoas que participaram no estudo e que não são, necessariamente, representativas de todas as pessoas naquela faixa etária. Voltando atrás, eu inclui pessoas a partir dos 50 porque, geracionalmente, fazia sentido. Porque se tratava da geração seguinte que iria fazer parte dessa geração mais velha, então eu queria ouvi-los.

E qual era o tema do doutoramento?

AB – O foco era a tecnologia, mas aquela fase inicial antes das pessoas começarem a usar a tecnologia – em inglês chama-se out of box experience – que é a fase em que eu preciso de comprar um telemóvel, até ao momento em que já estou a usar o telemóvel portanto a decisão de comprar, como comprar, desempacotar, fazer o setup, programar o que é preciso ter.

FM – Essa fase é diferente nas pessoas mais velhas em relação às mais novas?

AB – Uma coisa interessante que eu descobri foi que os familiares e amigos são um fator importante nesta fase. Portanto este fator social foi o que eu achei interessante mas não quero dizer que seja a única forma.

FM – Então os participantes demonstraram desconhecimento acerca das tecnologias?

AB – Isso também é interessante porque o estereótipo até então é que as pessoas seniores não gostam e têm dificuldade e não querem. Eu tinha uma diversidade de participantes e havia participantes super ligados e na vanguarda da tecnologia e tinham coisas que eu própria não tinha. E isso também ajudava na dinâmica investigador-participante.

FM – E quando é que o conceito de “design inclusivo” entra na sua vida?

AB – O primeiro contacto foi no quarto ano da licenciatura, a professora Paula Trigueiros foi minha professora de projeto, uma presença duradoura na minha vida, agora somos colegas. Foi também a Paula que me ajudou a identificar a oportunidade de uma carreira de investigação em design porque aquilo que estávamos a receber na licenciatura era muito design para ir trabalhar na indústria e empresas. Eu não tinha noção de que eu podia ser uma designer que não estava a fazer desenhos no computador, o que eu sei fazer, mas para a investigação não é necessário. O tipo de investigação que faço é mais sobre conhecer pessoas, ouvir pessoas e equacionar os problemas para depois um outro ou uma outra designer trabalhar sobre isso.

FM – Porque é que o design não é de todo inclusivo porque tem que ser especificado dessa forma?

AB – Eu quando eu ainda estava no doutoramento fui a uma conferência de Design Inclusivo e alguém disse “Um dia vamos chamar só design e não vamos ter que chamar design inclusivo”. Mas eu não sei se esse dia virá, é um bocado utópico porque o design é tão vasto e responde a tantas coisas e às vezes temos que chamar as coisas pelo nome para realçar a importância do nosso foco. Porque o Design Inclusivo pode também ter outras vertentes do projeto, a área de foco, mas aquilo que importa realçar é essa questão de nós tentarmos ouvir e envolver e responder ao máximo número de pessoas diferentes possível.

FM – Em termos de exemplos práticos prático, do que falamos em relação ao Design Inclusivo? O design inclusivo podia estar em muitos produtos do dia-a-dia?

AB – Podia e devia. Especialmente no mercado capitalista que nós temos em que há 10, 20, 30 versões de tudo, então é sempre possível nós termos uma versão adaptada a pessoas com problemas de mobilidade e a quem mais quiser usar, uma adaptada especialmente a pessoas cegas e a quem mais quiser usar. Eu acho que um produto se calhar não responde a todas as características humanas mas pode responder especificamente a um grupo e incluir quem mais quiser usar e puder usar.

FM – E os atuais alunos de design continuam a sair nas universidades sem saber qual é o potencial do design inclusivo ou já mudou essa realidade?

AB – Eu acho que o design atrai muitas pessoas interessadas em pessoas e, naturalmente, processos focados em pessoas, em utilizadores, conduzem a pensamentos mais inclusivos.

FM – Por exemplo, se olharmos para as opções inclusivas elas podem ser consideradas como uma vantagem competitiva, quer do ponto de vista do produto quer da pessoa enquanto designer conseguir dar este tipo de resposta, não é?

AB – Sim por exemplo, já se sabe a importância de desenhar para pessoas sénior porque, vou falar da literatura inglesa e americana, essa é a geração com mais dinheiro e portanto esse argumento de mercado já está muito bem feito para pessoas mais velhas. E não é só no design mas no turismo, por exemplo. É pena porque acho que não devia ser a motivação principal para fazê-lo mas eu compreendo que são as leis de mercado. Eu acho que o designer que faz o design para um nicho tem que demonstrar que é usável e interessante e desejável para outras pessoas enquanto considera o nicho como alvo principal.

Mas acho que não há razão para nós não fazermos, mais via serviço, adaptação a casos únicos ou grupos mais pequenos. A tecnologia permite isso e, por isso, o telemóvel, o computador e o tablet tendem a ser inclusivos porque nos permitem mudar o contraste, o tipo de letra, a forma de interação. Portanto a tecnologia já é um veículo para inclusão, é mais difícil quando falamos de produtos analógicos. Mas é uma questão do designer torná-los desejáveis e não redutores, estereotipados. Nós temos muitas noções sobre a experiência do utilizador, sobre materiais desagradáveis, mesmo o facto de se poder personalizar a cor…

FM – O design tem tudo a ver com inovação e criatividade, se associarmos o fator inclusivo esse universo agiganta-se não?

AB – Exatamente. O nosso trabalho nunca acaba. Mas às vezes as soluções não resultam…E o próprio designer não experimenta as suas próprias criações. E esse é o problema. Eu acho que estou a desenhar para um público. Mas não conhecendo o público e não tendo essas características. Quem somos nós para fazê-lo? Somos, mas não podemos fazê-lo sozinhos no nosso gabinete.

FM – E desde 2013, altura em que iniciou o doutoramento e a carreira de investigação, com que projetos se tem envolvido?

AB – Quase tudo me interessa desde que haja um impacto humano ou social comunitário. Portanto depois do doutoramento fui trabalhar cinco anos num projeto bastante grande, na Universidade Bristol, que ambicionava criar um sistema de sensores para a casa. E eu era a única designer que estava lá para fazer investigação em design. A intenção não era criar sensores novos, era pegar em sensores que existiam para integrá-los numa plataforma e usá-los para monitorizar a atividade das pessoas em casa para criar um padrão para que depois os desvios do padrão ou mudanças graduais ao longo do tempo pudessem indicar questões de saúde e bem-estar. E também que, por exemplo, se eu tivesse um evento, partir uma perna ou algo do género que o sistema também pudesse monitorizar o meu progresso após esse evento, se eu estava a melhorar, se estava dentro dos parâmetros desejáveis. Era uma tecnologia genérica que aliás estaria nas nossas casas desde criança para poder ter histórico: A Alison com cinco anos, a Alison com 20, a Alison com 40.

FM – E como foi aceite?

AB – Eu concordo que é super assustador. Estas plataformas de sensores eram para ser instaladas até 100 casas reais em Bristol. Acho que não chegaram a 100, eram 60 ou 70. Mas esse trabalho de recrutar as pessoas interessadas em ter esta tecnologia em casa foi um trabalho considerável e no qual eu estive envolvida. O público era diverso: desde pessoas jovens e saudáveis, pessoas seniores, pessoas em famílias com diferentes gerações, a pessoas com problemas de saúde diagnosticados, de tudo um pouco.

FM – O que resultou deste projeto?

AB – Ele continua. Em cinco anos aquela tecnologia não ficou muito amadurecida. Serviu para provar que é possível. Aquilo é um projeto universitário e portanto tem uma série de restrições. Há outras empresas maiores – a Google e a Aple – que estão a fazer isto de forma completamente desinibida em termos financeiros e éticos.

FM – A ética neste projeto é uma questão muito importante…

AB – Uma área que eu também trabalhei no projeto foram as questões éticas. Como íamos instalar sensores, além de saúde, podemos ver muitas outras coisas. Será que vemos? E o que é que fazemos com essa informação? Nós tivemos muitas preocupações se surgisse, por exemplo, um caso de violência doméstica. Qual é o nosso papel como investigadores?

FM – A ligação à Comissão de Ética da Universidade de Bristol começou aí?

AB – Sim, eu nessa altura fui convidada para integrar a comissão de ética da Faculdade de Engenharia na Universidade Bristol. O Departamento de Engenharia queria uma pessoa mais interessada nos fatores humanos e sendo mulher ajudava na diversidade de género no grupo e ainda estou ligada como membro externo.

Uma coisa engraçada é que aquele projeto era dinamizado por engenheiros de computadores e afins, mas a perspetiva da engenharia é muito diferente da perspetiva de design e de design inclusivo e de design centrado nos humanos. Os engenheiros, segundo a minha experiência, estão muito entusiasmados com o que eles podem fazer tecnologicamente. E eu entrava a dizer “Mas devemos fazê-lo?”. E logo no início os meus colegas puseram-me um apelido, eu não fiquei ofendida, até achei enternecedor, que era “dream killer” [risos]. Porque eles iam sonhar que iam fazer coisas espetaculares e eu ia chegar e dizer que não.

FM – Então a participação na Comissão de Ética tem influenciado de que forma o trabalho da Alison?

AB – Eu estou sempre a perguntar primeiro se devemos fazer as coisas mas eu acho que muitas vezes devemos, temos é que fazê-lo com o devido respeito das pessoas que estão envolvidas e eu acho que quem faz design inclusivo já pensa nas pessoas. É uma questão de saber quais são as nossas limitações e perceber essas pessoas porque nós não somos iguais nem temos a mesma experiência de vida.

Acho que também aprendi muito sobre protocolos e legislação e direitos que estão protegidos e sobre os nossos deveres como investigadores. Muitas vezes entramos dentro da casa das pessoas para ver a vida delas, vamos fazer uma intervenção e no final vamo-nos embora. E qual é o efeito que ir embora também tem? Está provado, noutros estudos, que aquilo que os investigadores fazem acrescenta valor à vida das pessoas e quando de repente nós vamos embora retiramos esse valor e às vezes deixamos as pessoas pior. Eu li um [estudo] feito numa casa de repouso e era sobre qualidade de vida e fizeram uma série de intervenções e houve muita dinâmica e o envolvimento das pessoas que viviam na casa e depois da investigação acabar houve um aumento considerável do número de mortes nos seis meses seguintes. Justamente porque se acrescentou muito em termos de qualidade de vida e de repente retirou-se e as pessoas viram que já não estavam no patamar em que eles tinham tido um aumento e depois voltar ao patamar anterior já não era igual. Nós podemos fazer mal com a nossa intervenção, então é preciso sabermos…

FM – Qual foi o maior desafio desse ponto de vista ético? É um desafio constante?

AB – Eu acho que o maior desafio foi fazer parte da comissão e saber que há certas coisas que temos e nque nos comprometemos a fazer um projeto e depois estar no gabinete no dia-a-dia com os meus colegas que viam os procedimentos éticos como empecilhos na sua investigação. E justamente observá-los nas suas práticas, sendo eu igual a eles tentar convecê-los… isso era mais complicado do que propriamente a componente de investigação. Eu acho que uma grande parte daquilo que eu fiz foi também nas relações interpessoais no meu local de trabalho. Tinha que escolher as batalhas que queria travar e não o fiz sozinha, tinha as minhas orientadoras, apoio da comissão de ética. Eu acho que se fizermos um “antes e depois” as pessoas que trabalharam no projeto saíram muito mais sensibilizadas.

FM – Ao longo desta entrevista já se percebeu que para a Alison é essencial trabalhar no terreno, com as pessoas, de preferência para quem se está a trabalhar, ouvi-las, quer seja investigador quer seja designer.

AB – Às vezes os investigadores têm o “luxo” do tempo e os designers que trabalham nas empresas se calhar não têm mas, por isso, é que também tem que haver essa parceria com a indústria ou então os investigadores partilharem os seus resultados de forma consumível, para não-académicos.

FM – É uma preocupação da Alison?

AB – É uma coisa que fazíamos muito no projeto em Bristol porque tínhamos que, não só dar a conhecer o nosso projeto, ouvir o público uma vez que íamos criar estes sensores para a casa deles e interessá-los e dar-lhes também uma forma de influenciar a investigação porque às vezes o que nós queremos fazer não é o que o público quer e eu acho que até esse ouvir preliminar antes de avançar é importante. Uma plataforma de sensores…Isso nunca foi um problema que alguém tenha sentido.

FM – Mas também há esse risco das pessoas não identificarem as necessidades…

AB – E a inovação não parte só da necessidade. Temos tecnologia que tem potencial e vamos explorar o potencial. Não estou a criticar essa abordagem, estou a dizer que há várias abordagens e ouvir o público é, para mim, fundamental.

FM – E esta maneira de trabalhar sempre fez sentido?

AB – Sim faz sentido desde que comecei a trabalhar o design para pessoas reais e não pessoas abstratas. Esse encorajamento que a professora Paula fez de falar com pessoas e entrevista-las, toda a minha carreira académica e profissional até agora foi consolidar essa perspetiva e aprender novas formas de fazê-lo. Um dos desafios é: As pessoas não sabem o que é que elas querem. Então nós temos que ter métodos e ferramentas que ajudam a escavar as primeiras camadas. “Eu não preciso de nada”. Mas vamos observar como é que as pessoas vivem, como é que usam os objetos, como usam os serviços e começar a descobrir.

FM – E que descobertas guarda neste percurso enquanto investigadora?

AB – Foi muito emocionante no doutoramento descobrir esta componente social que as pessoas mais velhas têm com a aquisição e o primeiro uso da tecnologia porque na altura eu falava e as pessoas identificavam-se com aquilo que eu estava a descobrir. Na investigação não era muito aceite porque até então o discurso era muito sobre empoderar as pessoas para fazerem tudo sozinhas e a questão da autonomia era muito importante até 2008. Até lá, era: temos é que encorajar e empoderar as pessoas para fazer o que têm a fazer sozinhas. E este facto de que as pessoas não faziam, necessariamente, sozinhas ou não faziam tudo sozinhas e gostavam dessa interação social, ela era valiosa e motivadora para o processo. Isto era verdade quando eu falava com as pessoas e não era no meio académico. Mas eu acho que também é preciso saber que nem toda a gente tem a oportunidade de envolver outra pessoa porque têm que fazer mesmo sozinhas e enquanto designers temos que lhes facilitar esse processo. Mas podem haver serviços que proporcionem esta interação social não tem que vir desenhado dentro do objeto, na embalagem mas pode fazer parte do processo de compra.

FM – E ao falar de design inclusivo, tendencialmente, se pensa nas pessoas com deficiência e na população sénior, mas podem englobar questões relacionadas com o género, por exemplo, que outros aspetos é necessário considerar?

AB – No projeto dos sensores era também uma questão importante porque é uma cidade multicultural e foi preciso dar resposta às diferenças culturais. Às vezes não é só os resultados da investigação mas o processo e o respeito pelos participantes também é uma forma de inclusão.

FM – E quando é que regressou a Portugal?

AB – Eu acho que foi em 2018.

FM – O que motivou o seu regresso a Portugal?

AB – Eu voltei para Portugal sem um plano. O que motivou o meu regresso foi, foi mesmo desilusão. Em 2018, para mim, aquilo já estava muito mal por causa dos dez anos de governos conservadores. Eles destruíram tanto. Eu não conseguia viver lá nem mais um minuto. E agora com a pandemia todos os dias penso “Ainda bem que não estou lá”. A minha qualidade de vida não estava má e em termos de oportunidade eu estaria lá melhor mas, em termos da minha pessoa e daquilo que eu via, eu não conseguia viver lá mais. Tem-se erodido tanto, valores, direitos…não sei. É uma cidade bastante dinâmica e rica e eu via a quantidade de pessoas sem-abrigo a aumentar diariamente sem apoios, pessoas com dois empregos, três empregos e a viver como sem abrigo. Não havia intervenção do Governo, a intervenção que existia chegava de organizações solidárias. Uma sociedade como a inglesa ou a britânica que se gosta de demonstrar como um superpoder e tratar as pessoas assim… Quando eu falo às pessoas elas não acreditam.

FM – E o regresso a Portugal o que lhe reservou?

AB – Fui convidada para dar, na Universidade do Minho, algumas unidades curriculares no Estado

FM -…mas sempre a morar em Coimbra. No entanto agora o envolvimento será mais intenso e vai-se mudar para Guimarães. O que motiva esta mudança?

AB – Sou investigadora principal no grupo de investigação da Escola de Arquitetura Arte e Design da Universidade do Minho que se chama Lab2PT e eu sou investigadora principal do grupo DTec, que é um grupo especializado em design e tecnologia. O que eu faço como investigadora principal é mesmo dinamizar projetos e procurar angariar financiamento mas também estabelecer parcerias, construir alguma colaboração dentro do laboratório mas também dentro da universidade, com outras universidades e também com a comunidade porque aquilo que me interessa é investigação com impacto real na vida real e para isso temos que sair da universidade.

FM – E quais são as expectativas para esta fase?

AB – Eu estou muito entusiasmada porque o que eu gosto de fazer é investigação, acima de tudo, e então é um privilégio ter uma oportunidade de fazer investigação pura e acho que em Portugal é uma coisa rara. E este cargo vai-me permitir fazer isso sem distrações ou outras responsabilidades e o grupo em si é excelente e tem várias áreas, a de design e tecnologia, arquitetura, património, território, geografia. Há muitas oportunidades para eu também sair da minha bolha, que até agora tem sido diversa, mas diversificar mais com pessoas também super bem posicionadas nas suas áreas.

FM – E como está a encarar o facto de vir morar em Guimarães?

AB – Eu estou entusiasmada porque conheço pouco – venho e vou – passo uma noite por semana cá. Vou da estação [de comboios] até aqui [IDEGUI], um bocadinho até ao centro histórico Vai ser uma oportunidade de me imergir.

 

 

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