Por cada brinquedo adaptado mil sorrisos

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Por cada brinquedo adaptado mil sorrisos

O Núcleo de Robótica do Departamento de Eletrónica Industrial da Universidade do Minho de 09 a 13 de dezembro mergulhou numa semana intensa de adaptação de brinquedos eletrónicos para que crianças com necessidades específicas e problemas de mobilidade consigam brincar com eles. O Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência de Guimarães foi visitar esta oficina aberta ao público e testemunhou o impacto que esta iniciativa tem em todos os envolvidos.

“Há motores?”, pergunta o aluno de Eletrónica Industrial da Universidade do Minho, António Ribeiro. “Estão aí num saquinho”, responde o professor e diretor desse departamento, Fernando Ribeiro.

“Porque é que o problema está no motor?”, pergunta Inês Ribeiro, uma aluna finalista. “Porque eu já liguei a fonte no motor e não funciona. O Marshall não tem motor”, explica o aluno do 2.º ano em jeito de brincadeira.

É este o ambiente descontraído que se vai encontrar nestas oficinas de adaptação de brinquedos eletrónicos para crianças com paralisia cerebral, realizadas pelo Núcleo de Robótica do Departamento de Eletrónica Industrial da UMinho e que decorrem todos os anos, desde 2006.

“Alguns dos brinquedos estão estragados e as pessoas até os dão porque eles não funcionam”, explica o professor Fernando Ribeiro. E é nestes casos que além da adaptação também tem lugar uma reparação. “Exatamente. O motor por alguma razão está estragado, vamos substituir e fazer a adaptação”, completa o aluno António Ribeiro.

Outras vezes, se faltarem peças, o Laboratório de Robótica recorre-se das duas impressoras 3D que possui para desenhar a peça e aplicá-la no boneco. “É conforme as necessidades. Há bonecos que andavam, mas depois como as crianças não podem ir atrás dos brinquedos por causa da pouca mobilidade, nós alterámos o motor e o boneco fica parado e só mexe os braços”, exemplifica Fernando Ribeiro.

Foi na semana passada, de 09 a 13 de dezembro, que o laboratório de Robótica do Campus de Azurém esteve “colorido” com brinquedos para avançar com este processo de adaptação. “É uma adaptação simples, mas depende muito dos brinquedos. Alguns são mais complexos e têm um circuito maior e há outros mais simples que só tem um movimento, umas luzes”, explica Inês Ribeiro.

É uma espécie de semana aberta em que o público em geral pode testemunhar a execução deste trabalho, mas em jeito de aproximação à comunidade, no dia 11, os responsáveis pelo projeto optaram por realizar as adaptações na Sociedade Martins Sarmento.

O Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência de Guimarães fez uma visita a esta instituição cultural vimaranense na rua Paio Galvão e cruzou-se com uma turma da escola de Santa Luzia com alunos ansiosos por compreender o que é preciso fazer para que crianças com necessidades específicas e problemas de mobilidade brinquem de forma autónoma com brinquedos eletrónicos. “O problema destes brinquedos é que as crianças com paralisia cerebral não conseguem acioná-los, tem que ser um adulto a carregar no botão, por exemplo. Então o que nós fazemos é abrir o boneco e colocar-lhe este interruptor externo para eles usarem no pescoço”, exemplifica o professor Fernando Ribeiro.

Além de explicar este processo às crianças e fazê-las perceberem que os brinquedos nem sempre são inclusivos, este projeto consegue também envolvê-las no processo de doação, visto que também tinham brinquedos para entregar. “99% dos brinquedos são usados, mas há pessoas que compram brinquedos para doar”, avalia Fernando Ribeiro. “Num total fazemos normalmente entre 70 e 80 adaptações, mas depende muito de quantos brinquedos temos para adaptar também”, acrescenta Inês Ribeiro. Fernando Ribeiro, para completar o balanço, atesta que este ano a quantidade de brinquedos é superior à de edições anteriores da recolha. “Recebemos alguns brinquedos de madeira ou peluches, mas nestes casos só faz sentido adaptar brinquedos que tenham eletrónica, som, luz, movimento, algo que lhes desperte a atenção”, explica.

As ferramentas são do laboratório de Robótica, os componentes são oferecidos por “uma empresa local de ex-alunos de Robótica da Universidade do Minho que também já andaram nestas adaptações”, a recolha é realizada pelos Serviços de Ação Social da UMinho (SASUM), em cooperação com a Associação Académica da UMinho (AAUM) e a Associação de Antigos Estudantes da UMinho (AAEUM) e a entrega às crianças é mediada pelo SalusLive – Centro Terapêutico. “É também uma micro-empresa que surgiu na Universidade do Minho e que só lida com crianças com paralisia cerebral e é essa empresa que contacta instituições para distribuir os brinquedos”, elucida o diretor do departamento de Eletrónica Industrial.

Hugo Freitas é próximo de uma pessoa que faz uso deste tipo de divertimento. “Tem 17 anos e ainda usa brinquedos porque tem uma doença rara e tem comportamentos de criança e mesmo com brinquedos simples se consegue divertir bastante e eu vejo que o problema que às vezes é arranjar um brinquedo para as necessidades dela. Por muito que se consiga arranjar acaba por ser mais caro.”

Renata Martins, outra aluna do 2.º ano, assume que embora esteja mais atenta à indústria de brinquedos “continua a não aparecer nada”. “Nós procurámos, se aparecer ficámos contente, mas não acho que apareça”.

Segundo o professor Fernando Ribeiro qualquer brinquedo adquirido já adaptado tem um custo associado que ronda os 150, 200 euros. “É muito caro. Compreende-se porque é um brinquedo que sai fora da linha de montagem, são produzidos poucos e a indústria não está disposta a isso, se houvesse um maior interesse por parte da indústria talvez os preços pudessem cair um bocadinho”, lamenta.

Hoje, dia 16 de dezembro, foi o último dia de recolha de brinquedos novos e usados da campanha “Oferece… e faz uma criança feliz!”, lançada pela Universidade do Minho em 2008, e que pretende levar sorrisos e a magia do Natal às crianças com deficiência.

Mas os sorrisos e a felicidade é partilhada por todos os que integram este projeto e o fazem acontecer, como tão bem descreve Hugo Freitas: “Para além da experiência que ganho a fazer o que gosto é também saber que estou a dar um sorriso a estas crianças e saber que posso contribuir dessa forma faz-me uma pessoa ainda mais feliz e ainda mais realizada”, remata.

Entretanto o Marshall, uma das personagens dos desenhos animados Patrulha Pata, já está adaptado e o respetivo carro já tem o motor a funcionar. Mais um brinquedo pronto para oferecer e fazer uma criança feliz.

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