Sérgio Alexandre Lopes na madrugada do dia 01 de janeiro não teve tarefa fácil para regressar a casa depois de festejar a passagem de ano. O autocarro da Carris, em Lisboa, em que deveria seguir tinha a rampa avariada e o habitual “vai ter que esperar pelo próximo” desta vez encontrou um cidadão com mobilidade reduzida com vontade de dizer basta. Sérgio Alexandre Lopes decidiu bloquear a passagem do autocarro e desde essa altura o tema tem dado “pano para mangas”.
“O autocarro chegou às 2h40 e a rampa estava avariada”, começa por relatar Sérgio Alexandre Lopes. “A temperatura era de cerca de nove graus e a primeira coisa que o motorista disse, pela janela, depois de ter tentado acionar umas seis vezes o dispositivo, foi ‘vai ter que esperar pelo próximo’. Este é o discurso habitual”, lamenta.
Mas Sérgio Alexandre Lopes não estava sozinho. A namorada, Carmen Sofia Lopes, prontificou-se a bloquear a saída do autocarro: “Posso ir presa por impedir a circulação de um transporte público? Posso. E vou feliz. Sempre pensei que há excelentes motivos para se ser preso”, referiu a assistente pessoal de profissão num vídeo que decidiu fazer e que circula no Facebook. “Não vai um passageiro, não vai ninguém”, termina.
Os passageiros foram informados “do motivo do bloqueio” que segundo o relato, (disponível AQUI), é justificado pela “discriminação que a Carris promove diariamente, do descaso com que são tratadas as pessoas com mobilidade reduzida”. “Um dos passageiros que mais apoiou a nossa decisão chamou a PSP”, continua a contar Sérgio Alexandre Lopes.
Entretanto, com autocarro impedido de avançar, os agentes da PSP foram devidamente contextualizados da situação que é “constante” e, sendo de madrugada e com baixas temperaturas, “tudo se torna ainda mais grave”. “Expliquei que tenho o mesmo direito que todos os passageiros a viajar naquele autocarro, que tenho passe, que a Carris incumpre a Lei 46/2006, que proíbe e pune a discriminação em razão da deficiência e da existência de risco agravado de saúde, e que a alternativa que a Carris me estava a dar era um autocarro mais de uma hora e meia depois, sem garantias de ter uma rampa funcional”, explica.
Nem Sérgio Alexandre Lopes nem Carmen Sofia Figueiras foram presos e, depois de muita pressão, chegou um segundo autocarro disponibilizado pela Carris. “Logo que o autocarro “reservado” chegou, o motorista do primeiro queria ir embora, os agentes tentaram dissuadir-nos, mas, mais uma vez, por falta de confiança na Carris, foi impedido de ir até que a rampa fosse testada. A rampa estava… avariada, caros amigos”, continua a relatar.
A rampa do segundo autocarro acabou por funcionar manualmente mas o episódio contou ainda com alguma falta de compreensão por parte de alguns passageiros.
A resposta da Carris chegou passados dois dias, na sequência, das notícias e da onda de indignação que os internautas manifestaram nas redes sociais em relação a este episódio, considerado recorrente quer por Sérgio Alexandre Lopes, quer por outros utilizadores dos transportes públicos com mobilidade reduzida.
“Isto é obviamente uma prática discriminatória da Carris mas não se circunscreve a esta empresa. STCP, Rodoviária, Vimeca, Metro de Lisboa, etc., contribuem diariamente para uma situação insustentável”, aponta.
Sobre o autor