Projeto transforma espaços educativos em Guimarães

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Projeto transforma espaços educativos em Guimarães

“Da Escola para o Mundo – Acessibilidade Cognitiva” é uma iniciativa conjunta entre a Cercigui e o Agrupamento de Escolas Fernando Távora que faz uma aposta na comunicação acessível e inclusiva em contexto escolar.

Através da implementação de pictogramas, comunicação visual e ferramentas de apoio à autonomia, o projeto tem permitido que os alunos — em particular aqueles com perturbações do espetro do autismo ou oriundos de contextos migratórios — encontrem no espaço escolar um ambiente mais compreensível e funcional.

Em entrevista, a terapeuta ocupacional do Centro de Recursos para a Inclusão (CRI) da Cercigui, Patrícia Guimarães, recorda como nasceu a ideia: “Sentimos que os nossos jovens, sobretudo aqueles com autismo, apesar de reconhecerem símbolos e imagens, continuavam a depender muito dos adultos para se orientarem na escola. Havia ansiedade, medo de se enganarem, e percebemos que faltava uma estratégia que lhes garantisse maior autonomia.”

O desafio tornou-se ainda mais evidente com a chegada de alunos migrantes, para os quais as barreiras linguísticas representavam um obstáculo acrescido. Nesse contexto, a imagem surgiu como “uma ferramenta universal de comunicação”, comparável à forma como qualquer pessoa se orienta num aeroporto estrangeiro ou num centro comercial através de sinalética.

A implementação do projeto seguiu um percurso cuidadoso de adaptação e validação: primeiro, realizou-se o levantamento dos espaços que careciam de sinalização — portarias, salas de aula, biblioteca, bar, cantina, papelaria e depois, cada símbolo passou por um processo de validação junto dos alunos e professores.

“Não basta sinalizar. O que é claro para uns pode não ser para outros. Tivemos, por exemplo, um ícone para ‘sala de reuniões’ que os alunos interpretavam como uma aranha. Tivemos de redesenhar até fazer sentido para todos”, explicou a Patrícia Guimarães.

Além da sinalização, surgiram as regras visuais de funcionamento dos espaços: como utilizar a biblioteca, onde se dirigir na cantina ou que procedimentos adotar no bar. Estas orientações simples, apresentadas em suportes visuais, permitem que os alunos compreendam de forma intuitiva o que fazer, reduzindo dúvidas e conflitos.

Os efeitos são visíveis no quotidiano e a técnica do CRI recorda o feedback de Afonso, antigo aluno da escola: “Ele dizia que os símbolos o deixavam tranquilo, que conseguia circular pela escola sem medo de se perder. Essa sensação de segurança é, para nós, o maior indicador de sucesso.”

Também os professores e assistentes operacionais reconhecem que a acessibilidade cognitiva simplifica rotinas, reduz a ansiedade e promove a independência e a autonomia, beneficiando não apenas os alunos com necessidades educativas específicas, mas toda a comunidade escolar.

O evento de apresentação pública do projeto realizou-se a 07 de julho e contou com a presença de representantes de várias escolas do concelho, técnicos do Município de Guimarães e elementos do Fórum Municipal das Pessoas com Deficiência.

A moldura humana para conhecer os resultados deste projeto manifestou, segundo a própria instituição vimaranense realça nas redes sociais, “um claro sinal de envolvimento e compromisso com uma escola mais acessível, inclusiva e para todos”.

Este projeto, que tem vindo a transformar os espaços escolares do Agrupamento de Escolas Fernando Távora em ambientes mais compreensíveis, funcionais e acolhedores para toda a comunidade educativa tem, precisamente, como principal objetivo a promoção da inclusão plena nas escolas.

 A implementação de estratégias de acessibilidade cognitiva, como a utilização de pictogramas, comunicação visual e ferramentas que favorecem a autonomia dos alunos no seu dia a dia escolar pode ser replicada noutros estabelecimentos escolares.

 Depois do sucesso na Escola Fernando Távora, a iniciativa já despertou o interesse de outros agrupamentos do concelho, como Afonso Henriques, Briteiros, Francisco de Holanda e Santos Simões. O objetivo da Cercigui e dos parceiros é claro: alargar o projeto e transformar Guimarães numa cidade modelo em acessibilidade cognitiva.

“O objetivo é exatamente esta replicação”, sublinha Patrícia Guimarães.  No entanto, a técnica frisa que este projeto não se pode “implementar exatamente da mesma forma noutra escola, noutro agrupamento”. “Porque o que é para nós um símbolo percetível, não é para outro. E este processo de validação nunca pode ser ultrapassado porque a população não é a mesma”, esclarece. Logicamente que há símbolos que são universais, que acabam por ser muito percetíveis para todos, porque são usados da mesma forma quase em todos os lugares, mas há outros que não. Nem todos os sítios têm os mesmos espaços”, conclui.

Além das escolas, o projeto começa a chegar a eventos comunitários — como a Feira Afonsina e o Mercado de Natal — onde a comunicação visual facilita a participação de todos.

“A inspiração vem de cidades espanholas e latino-americanas onde a sinalética inclusiva está presente em escolas, parques, autocarros e edifícios públicos. Queremos trazer essas boas práticas para cá”, sublinha Patrícia Guimarães.

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