“O enterro e funeral que há uns anos se anunciava das bibliotecas provou-se o contrário, com a necessidade premente da existência de um espaço de inclusão e apoio para todos.”. Foi com esta frase que a vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Adelina Pinto, abriu a sessão “Inclusão e diversidade nas bibliotecas escolares”, realizada na tarde de 12 de setembro, na Biblioteca Municipal Raul Brandão.
A iniciativa integrou-se no projeto europeu Byblios, financiado pelo Erasmus+ KA2, e reuniu investigadores, técnicos e dirigentes associativos, mas teve nos jovens estagiários com deficiência e incapacidade os seus grandes protagonistas.
Foram seis os estagiários que deram rosto e voz ao projeto – Ana Beatriz Cunha, Ana Felicidade Silva, Ana Sofia Freitas, Bruna Ferreira, João Guimarães e José Pedro Martins – partilhando as suas experiências de trabalho em diferentes bibliotecas de Guimarães. Os seus testemunhos mostraram a forma como a oportunidade de estagiar permitiu-lhes ganhar competências, confiança e motivação, revelando a importância de iniciativas que aproximam o mundo laboral de quem tantas vezes encontra barreiras de acesso. Colocados em pares, os jovens apoiaram-se mutuamente, reforçando a entreajuda e a aprendizagem em equipa, enquanto se integravam no quotidiano das bibliotecas escolares, públicas e comunitárias.
Ao longo da sessão, recordou-se o papel fundamental das bibliotecas na promoção do pensamento crítico, no combate à desinformação e na construção de comunidades mais democráticas. O coordenador interconcelhio da Rede de Bibliotecas Escolares, Rui Festa, deu um exemplo ilustrativo: a célebre frase muitas vezes atribuída a Winston Churchill “O sucesso não é definitivo, o fracasso não é fatal: é a coragem de continuar que conta”, não tem afinal autoria conhecida. Pequenos enganos como este, explicou, mostram a necessidade de ensinar os mais jovens a questionar e a verificar a informação antes de a tomarem como verdadeira.
As políticas públicas de emprego para pessoas com deficiência também estiveram em debate. Representantes da Cercigui, Adélia Gomes e Ângela Pereira, e da Universidade do Minho, Fernando Azevedo, sublinharam a importância do acompanhamento contínuo na integração profissional, mas alertaram para os entraves ainda existentes, como a impossibilidade legal de pessoas com incapacidade inferior a 60% concorrerem a concursos públicos enquadradas nas quotas para a contratação destinadas às pessoas com deficiência.
Foi igualmente realçado que o investimento em bibliotecas não é apenas cultural, tem reflexos sociais, económicos e estratégicos. Fernando Azevedo lembrou ainda que “cada euro investido gera um retorno de 3,50 a 5 euros”, defendendo que estas infraestruturas funcionam como autênticos centros de coesão democrática, onde se removem barreiras e se promove a participação dos cidadãos.
No final, ficou a certeza de que as bibliotecas estão longe de ser espaços do passado. São hoje lugares de inclusão, de aprendizagem ao longo da vida e de oportunidades. O projeto Byblios, ao dar palco e experiência real a jovens com deficiência, confirmou que a inclusão não se decreta, constrói-se todos os dias, com proximidade, colaboração e confiança.
O Byblios é um projeto europeu de educação para adultos financiado pelo Erasmus+ KA2 desenvolvido em parceria por seis entidades de cinco países (Alemanha, Espanha, Itália, Portugal e Roménia) que, durante 24 meses, colocou as bibliotecas escolares, públicas e comunitárias no centro da inclusão.
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