“Territórios culturais”: a itinerância em Portugal nasceu em Guimarães

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“Territórios culturais”: a itinerância em Portugal nasceu em Guimarães

“Territórios culturais” é a exposição patente até 31 de julho na Biblioteca Municipal Raúl Brandão, em Guimarães, que marca a estreia do projeto Realces em Portugal. Esta iniciativa, que aposta na arte sensorial, promete uma experiência única a todos os visitantes, em particular às pessoas cegas e com baixa visão que podem através do tato explorar as peças artísticas que integram esta exibição e aceder à informação sobre as obras disponível em braille e em áudio.

São obras de vários artistas lusófonos que pisam o território cultural português na cidade que viu nascer este país: Guimarães inaugura a viagem que se espera itinerante para esta exposição.

“Nós estamos muito gratos pela forma como Guimarães recebeu o projeto de braços abertos”, revela Jorge Vilela acrescentando que a cidade-berço “será sempre a casa número 1” deste projeto. “A independência nacional nasceu em Guimarães. É mesmo muito simbólico”, acrescenta o mentor do projeto Realces que foi pensado em finais de 2021.

“Territórios culturais” promovida pelo Realces – “um projeto expositivo artístico e cultural de arte sensorial que promove a divulgação, a acessibilidade e a oportunidade de visualizar e apreciar arte através dos sentidos, particularmente o tátil, fator essencial na arte sensorial” – é uma exposição para toda a gente.

Quem o diz é Eduarda Oliveira, uma mulher que se divide pelo mundo da saúde, enquanto pneumologista, e pelo mundo das artes enquanto professora de expressão plástica em pintura. Como curadora gosta de explorar a diversidade de perspetivas e de expressões plásticas das múltiplas vertentes artísticas e dos circuitos de produção. Mas foi a primeira vez em que na sua atividade de curadoria trabalhou com o objetivo específico de chegar ao público cego e com baixa visão. Ou melhor, de fazer a arte chegar a estas pessoas.

“Eu penso que foi um processo relativamente fácil”, começa por dizer Eduarda Oliveira, sublinhando que a relação estabelecida com os artistas foi essencial para o desenvolvimento das obras. “Esta vertente de arte sensorial, arte táctil, tem de facto desafios artísticos muito próprios e muito específicos. O desenvolvimento dos quadros, das obras em si tem que obedecer a um determinado tipo de parâmetros para que possam servir todos os públicos e isso é um desafio artístico para todos os artistas que colaboram no projeto, sem dúvida”, sublinha a curadora da exposição.

“Territórios culturais” reúne obras de Ana Paula Berteotti, António Arriscado, Irene Felizardo, Erika Jâmece, Eusébio Dias e Ismaël Sequeira. Estes artistas plásticos de Portugal, Angola e S. Tomé e Príncipe foram convidados a explorar inquietações relacionadas com a presença da África Lusófona no território português.

Vale a pena destacar a presença de António Riscado, um artista com baixa visão que a equipa do Realces decidiu incluir na exposição, manifestando desta forma um esforço de representatividade das pessoas cegas e com baixa visão não só enquanto público mas também enquanto artistas.

As obras criadas são uma forma de interrogar “sobre o complexo resultante do desconhecimento cultural e de vivências condicionadas pelo eurocentrismo que ditou o desenvolvimento universal a partir do século XV” e de questionar “igualmente como o humanismo ainda não é capaz de introduzir práticas que quebrem os constrangimentos provocados pela história”.

A abordagem artística a esta temática tão atual estreou-se na exposição integrada no Festival inclusivo de artes “No meu mundo”, organizada pela Associação Internacional dos Lusodescendentes (AILD) e pela Rede do Empresário que se realizou no Camões – Centro Cultural Português, em Angola.

Para a concretização deste projeto foi essencial a colaboração da Íris Inclusiva – Associação de Cegos e Amblíopes e da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. Jorge Vilela destaca ainda o importante contributo de Joaquim Franco para a locução do áudio sobre as obras em exposição.

Todo este processo, que resultou numa aprendizagem coletiva, condicionou em parte a liberdade artística de quem criou estas obras, mas o resultado final, apresentado a 29 de junho na Biblioteca Municipal Raúl Brandão, veio mostrar que o Realces está no caminho certo e que se pode afirmar como um projeto artístico inclusivo.

A vice-presidente Adelina Pinto e a vereadora da Ação Social Paula Oliveira, da Câmara Municipal de Guimarães marcaram presença neste evento e manifestaram a vontade de continuar com as portas abertas a todas as exposições dinamizadas pelo projeto Realces.

“Eu penso que que foi gratificante para todos nós, porque temos a noção que de facto é um projeto recente e o início do projeto em Portugal, foi de facto positivo ser em Guimarães e só nos dá mais alento e mais força para continuar este projeto e o divulgar pelo maior número de cidades possíveis”, admite Eduarda Oliveira.

“A ideia é que todos os anos, façamos, pelo menos, uma exposição diferente, com artistas diferentes, com temas diferentes”, adianta Jorge Vilela.

“É o meu projeto de coração”, admite o designer gráfico. Que relembra a experiência testemunhada pelas pessoas cegas e com baixa visão para manifestar a confiança na continuidade deste projeto. “Eu não tenho palavras para descrever aquilo que se passou na inauguração”, diz entusiasmado.

Eduarda Oliveira destaca também a participação dos presentes na inauguração da exposição que puderam experienciar, utilizando os óculos disponibilizados pela Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, diversos tipos de baixa visão e mesmo a possibilidade de utilizarem vendas e desfrutarem da exposição tátil simulando a experiência de uma pessoa cega.

A acessibilidade à arte manifestada por este projeto também está patente no website, em todo o processo de desenvolvimento das obras e na continuidade futura do Realces. O mentor do projeto, Jorge Vilela, diz que está na calha uma colaboração com a Universidade do Minho para melhorar a experiência da visita, por exemplo, a uma pessoa utilizadora de cadeira de rodas, mas também para investir em tecnologias que possam apoiar a descrição das obras.

A procura de apoios através de mecenato é um dos grandes objetivos futuros para garantir a sustentabilidade deste projeto que também faz uma aposta na sensibilização da sociedade em geral para os problemas de visão e para a importância da prevenção.  

Inaugurada a 29 de junho, “Territórios culturais” é uma exposição que tem como objetivo envolver as pessoas cegas ou com baixa visão no universo das artes. Jorge Vilela, Eduarda Oliveira e a restante equipa e colaboradores que participaram neste processo de aprendizagem coletiva conseguiram cumprir este requisito. Até 31 de julho pode testemunhar o resultado desta exposição localizada na Biblioteca Municipal Raúl Brandão. Não perca.

“Territórios Culturais” é uma exposição de arte sensorial que convida todas as pessoas a descobrirem a arte através do toque.

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