Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães celebra bodas de prata

PorFórum

Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães celebra bodas de prata

A Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães completa, em 2019, 25 anos. Uma data incontornável, e, por esse motivo, as comemorações nacionais do Dia Nacional da Paralisia, que se assinala a 20 de outubro, vão realizar-se na Cidade Berço. Em conversa com o presidente da instituição, Joaquim Oliveira, sobre o passado, o presente e o futuro desta importante entidade ficamos a saber o que está programado para celebrar essa efeméride já no próximo mês.

Joaquim Oliveira é presidente da Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães há 13 anos e é desse período que sente que tem autoridade para falar. Já estava, antes de ser eleito, ligado à instituição enquanto contabilista da mesma e conhecia os desafios que a gestão financeira de uma entidade como esta apresenta. Além disso, o facto de ter uma neta com 15 anos com o síndrome de Prader-Willi [uma doença cujos sintomas incluem músculos fracos, sensação de fome constante, desenvolvimento lento] e o ter enfrentado um cancro há três anos fez com que a sensibilidade para as questões de todos os que têm diversidade funcional apurasse ainda mais.

 

Fórum – O problema da sua neta consiste em quê?

Joaquim Oliveira (JO) – O essencial é que ela não ganha músculo e era capaz de começar a comer de manhã e acabar à noite. O cérebro não assimila que o estômago está cheio. Ela é bastante esperta, o que mais se nota é o que se vê, o peso.

Fórum – Foi um dos fatores que motivou a sua candidatura a presidente da APCG?

JO – Eu já, anteriormente, fazia a contabilidade da instituição, estava mais ou menos por dentro da instituição e conhecia e sabia os problemas que a instituição tinha. Concorri às eleições naquela altura e cá fiquei.

Fórum – E a ver pelo tempo que passou, nunca se arrependeu, já lá vão 13 anos…

JO – Tenho um prazer enorme em estar aqui porque ajudo, sou um voluntário reformado e chego ao fim do dia e vou contente para casa com prazer naquilo que fiz. Eu não posso falar destas coisas porque ainda depois de tantos anos me emociono.

Fórum – E neste tempo todo, já muita coisa mudou na APCG, o que é que destacaria como sendo as maiores conquistas destes últimos anos?

JO – Quando chegamos cá, uma das coisas que fizemos foi acabar com a remuneração da direção porque somos todos voluntários e com o dinheiro que a direção gastava metemos mais uma equipa – um psicólogo, um terapeuta ocupacional, um terapeuta da fala, um fisioterapeuta. Pusemos a piscina que estava abandonada em funcionamento e todo o material que os técnicos dizem “nós necessitámos disto, isto é inovador”, mais dia menos, conseguimos pô-lo cá. Eu achei que não se justificava um pavilhão tão alto porque não se jogava voleibol então deitámos uma placa e fizemos estas salas que não existiam e temos ali duas salas de snoezelen que foram os Rotários que colocaram o material. No Norte não havia nenhuma, agora já começa a haver, não com tanto material como a nossa tem, porque os Rotários de  Guimarães com os Rotários Internacionais e os Rotários de Leicester, na Inglaterra, puseram aqui técnicos para montar. Eles é que fizeram tudo, naquela altura gastaram mais de 50 mil dólares, os Rotários falam em dólares, não falam em euros. Estiveram aqui dois técnicos uma semana e eles é que pagaram tudo. Conseguimos ter ali duas salas que ainda são inovadoras.

Fórum – Então a instituição cresceu desde que está à frente na presidência?

JO – É o dia-a-dia de uma casa. Quando vim para aqui deveria ter à volta de 20 e tal funcionários, temos 60 e tal funcionários.

Fórum – E ao nível dos clientes também foi possível aumentar a capacidade de resposta (imagino que as listas de espera se mantenham, ainda assim)?

JO – Nós agora temos duas equipas com o dobro dos técnicos e assim duplicámos a capacidade de atendimento. Só que temos um grande problema. É que mesmo que quiséssemos mais, não temos salas. Técnicos não faltam no mercado mas não temos salas e, em relação aos subsídios da Segurança Social, desde o início, que nos apoiam para dar resposta a 122 crianças em termos de reabilitação. Se atendermos 200, eles pagam sobre 122, é o protocolo que temos. Temos 17 para lar residencial. Temos o CAO [centro de atividades ocupacionais] que inicialmente era para 15 e nós conseguimos para 30, mas temos lista de espera. Ultimamente fizemos um protocolo com a junta de freguesia [de Pencelo], eles tinham os fundos do edifício, duas ou três salas grandes abandonadas, e em conjunto com o presidente da junta e o presidente da câmara decidimos abrir ali outro CAO para dar apoio a essa lista de espera.

Fórum – O que foi inaugurado recentemente?

JO – Exatamente.

Fórum – Já têm inscrições?

JO – Fizemos aquilo para 15 [clientes], mas ainda não estão lá 15. Nós não podemos fazer os preços que fazemos aqui, porque aqui é protocolado, há as tabelas da Segurança Social, os pais ganham X. Ali em baixo não, tivemos que fazer um cálculo e não é comparticipado. Neste momento paga-se 225 euros para frequentar o CAO. Abre às 8h00 até às 18h00.

 

Presidente da Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral, Abílio Cunha (esquerda), presidente da câmara municipal de Guimarães, Domingos Bragança (ao centro) e o presidente da Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães, Joaquim Oliveira (à direira) na inauguração do novo centro de atividades ocupacionais

Inauguração do novo centro de atividades ocupacionais

A 08 de junho a instituição inaugurava o novo centro de atividades ocupacionais, uma das iniciativas incluídas no programa comemorativo da instituição que promete revelar mais novidades durante o ano de 2019. “Este ano é ainda mais especial e estão por vir muitas surpresas e mudanças importantes”, lê-se na página do Facebook da APCG.

A inauguração da renovada estrutura localizada no piso térreo da Junta de Freguesia de Penselo, contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, e do, entre outros dirigentes da APCG, responsável máximo da instituição, Joaquim Oliveira. Também o presidente da Direção da Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral, Abílio Cunha, participou neste ato simbólico.

 

Fórum – A sua ligação à instituição, sendo contabilista de profissão, acaba por ser tentar gerir estas contas. É difícil?

JO – Nós somos muito regrados. Eu trabalhei 43 anos, estive sempre ligado à contabilidade, conheço muitas empresas, o vice-presidente também conhece algumas empresas e nós temos andado algumas vezes com o chapeuzinho – para mim eu não ia, mas para a instituição vou – e temos conseguido muitas coisas doadas.

Fórum – E sente que os vimaranenses são pessoas solidárias e estão disponíveis para colaborar?

JO – Eu não gosto muito de falar nisto mas as pessoas que são mais simples são as que mais dão. Aqueles ditos ricos, novos-ricos, certamente porque não passaram por dificuldades, não são tão solidários.

Fórum – Também têm feito mais esforços para dar a conhecer o vosso trabalho, é importante?

JO – Quando eu cheguei aqui disse “A APCG não é conhecida em Guimarães e nós temos que a fazer conhecer”. Inventei a tal famosa caminhada que vai na 13.ª edição.

Fórum – É a vossa iniciativa mais sonante?

JO – No primeiro ano, realizou-se aqui, consegui que participassem mil e tal pessoas. Aquilo deu ânimo a toda a gente e deu ânimo ao presidente da câmara, que era o António Magalhães, naquela altura não havia tantas caminhadas, e falou-me “Eu quero isto mas é no centro histórico, no centro da cidade”. Garantiram o apoio logístico, começámos a arranjar os patrocinadores, sorteámos aquele automóvel e normalmente a nossa receita é a bilhética e alguma que sobra dos patrocínios.

Fórum – Mas é um bom contributo para o orçamento anual da APCG?

JO – Com aquilo que sobra dos patrocinadores mais a bilhética são sempre 20 mil euros.

Fórum – E como têm sido estas 13 edições em termos de participação?

JO – No primeiro ano foram mil e tal, no segundo três mil e tal e estagnou por aí. Houve uma altura que chegou ao quatro mil e tal e depois veio para os 2800. Como há muita coisa agora…

Fórum – Mas toda a gente já associa essa iniciativa à APCG, já é uma tradição…

JO – É sempre no domingo depois da procissão à Penha. A procissão à Penha é no segundo domingo do mês [de setembro], a nossa caminhada é no terceiro. O meu objetivo era chegar aos cinco mil e parar por aí, mas ainda não houve nenhuma que chegássemos aos cinco mil.

Fórum – Será que é este ano?

JO – Não me parece. Há muita coisa já. Embora sejamos os que damos os melhores prémios. Nós apostámos um bocado nisso.

 

 Caminhada da APCG

Foi no domingo, 15 de setembro que se realizou a XIII Caminhada, Mini-Maratona e Percurso de Cadeira de Rodas “Pessoas Diferentes, Direitos Iguais” organizada pela Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães.

Participaram cerca de três mil pessoas nesta iniciativa que a instituição vimaranense realiza há 13 anos com o objetivo de sensibilizar a opinião pública para o direito à igualdade e à não-discriminação, dando também alguma notoriedade ao desporto adaptado em Guimarães.

Esta iniciativa anual desdobra-se numa caminhada de cinco quilómetros, uma mini-maratona de onze e um percurso de cadeira de rodas de 600 metros.

A prova costuma percorrer a cidade até à Pista de Atletismo Gémeos Castro, onde os três primeiros classificados recebem os prémios de classificação.

 

Fórum – Além da caminhada o que é que destaca mais em relação às atividades que fazem durante o ano?

JO – Nós temos um espetáculo que fazemos com o apoio da Escola de Dança Flávia Portes em que a receita reverte toda a favor da APCG. Temos um grupo de dança que se chama Cromossoma X. Também temos um grupo de teatro que entretanto vai avançar, temos o projeto, está aprovado. Temos depois a Gala dos Afetos que é em outubro e este ano tivemos o jantar dos 25 anos. O Dia Nacional da Paralisia Cerebral que se assinala a 20 de outubro este ano vai ser organizado pela APCG. Começa no dia 18, no Toural, com os Jogos sem Barreiras em que participam os técnicos provenientes de todas as APCs do país, acho que só não vem ninguém dos Açores. Vamos chamar as escolas para os alunos verem as dificuldades que têm as pessoas com deficiência no dia-a-dia. Até para alertar os alunos para que quando tiverem colegas na escola com problemas não os gozarem, também é uma chamada de atenção para isso. No dia 19 as comitivas das outras associações vão andar em várias atividades, conhecer Guimarães. E à noite realiza-se no Multiusos a Gala dos Afetos.

Fórum – O mais difícil de resolver neste momento é dar resposta a quem ainda não tem. Concorda?

JO – E muitas vezes terem uma resposta e não ser a quantidade que precisava. Uma pessoa precisar de fisioterapia cinco vezes por semana e só ter duas porque não há hipótese, porque há outros que também precisam… Isso é que é mau. Uma criança ser acompanhada uma vez por semana ou duas vezes por semana é muito pouco. Nós deveríamos ter possibilidades de lhes dar os cuidados todos necessários e se for preciso cinco vezes por semana ter a possibilidade de dar cinco vezes por semana. Mas nós para darmos cinco vezes por semana a essa criança vamos estar a tirar a outra criança que já só tem uma vez ou duas. E muitas vezes as pessoas não têm o apoio necessário aqui e vão complementá-lo a clínicas privadas. Mas não tem nada a ver. Ganham muito dinheiro com a deficiência e estes centros deviam ter dinheiro para dar melhores cuidados aqui.

Fórum – Ter que gerir isso não é fácil…

JO – Senão teríamos que mandar crianças embora e nós não queremos mandar ninguém embora. Nós queríamos era dar mais resposta a todos. Não era abandonar ninguém. E é evidente que os pais muitas vezes não compreendem. É natural que não compreendam. Eu se tivesse no lugar deles também não compreendia. Porque o que eu queria é que o meu filho se precisasse de cinco sessões tivesse cinco sessões. Eu compreendo perfeitamente mas nós também não somos imensos. Vontade temos nós.

Fórum – Mas isto não é um problema exclusivo da APCG?

JO – Não. Nós temos reuniões com os outros presidentes. Todos nós colocámos os mesmos problemas.

Fórum – Mas está confiante?

JO – Eu acho que a tendência, mais dia, menos dia, será de piorar.

Fórum – A solução passa por aumentar a capacidade de resposta?

JO – Nós vamos aumentar. Estamos quase para entrar em concurso público para fazer uma obra de 600 e tal metros quadrados. Se sair o Pares vamos fazer o projeto inicial que são 1500 metros quadrados em que vamos aumentar o CAO, o Lar e ceder salas para a Reabilitação e isso é protocolado. Nós vamos aumentar, eu só espero que tudo seja protocolado.

Fórum – O seu futuro continua a passar pela APCG?

JO – Eu quando fui há três anos operado pensei que não iria andar por aqui, mas para já ainda não fui e no que eu puder ajudar estou aqui. Também é um escape para mim e na altura [em que fiquei doente] se não viesse para a associação, eu venho todas as tardes para a associação, ficava por casa e iria ser pior.

 

Jantar de aniversário da APCG

A Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães para celebrar esta data realizou no dia 01 de junho um jantar de aniversário aberto à participação de todos os que quisessem festejar os 25 anos de existência desta instituição.

Foi na Quinta da Torre que se juntaram todos os que quiseram assinalar esta importante data, porque indica o momento em que Guimarães passou a ter uma resposta vocacionada para as pessoas com esta condição.

 

 

Comemorações do Dia Nacional da Paralisia Cerebral

Em 2019 é em Guimarães que a efeméride é assinalada e dia 19 de outubro os Anjos irão atuar no Multiusos de Guimarães no contexto da Gala dos Afectos. Além disso o programa prevê a realização de uma prova desportiva chamada Jogos com Barreiras em que alunos das escolas e os técnicos das associações nacionais de paralisia cerebral vão experimentar as dificuldades do dia-a-dia de quem tem diversidade funcional.

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